data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Os primeiros resultados da pesquisa liderada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que monitora a evolução de sintomas de estresse, ansiedade e depressão durante a pandemia do novo coronavírus no Brasil, foram divulgados pela instituição na última sexta-feira. O relatório (veja abaixo o infográfico) com os apontamentos da primeira das quatro etapas previstas mostra que 3.633 pessoas responderam ao questionário do estudo conhecido por 'CovidPsiq'.
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De acordo com a amostra, 76,3% dos participantes são mulheres e 23,7% são homens. Do total, 51% são jovens com idade entre 18 e 29 anos. A análise estatística da pesquisa mostrou que quanto menor a idade, mais foi possível evidenciar sintomas de depressão, ansiedade, estresse, estresse pós-traumático e alcoolismo.
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- Pelo que se demonstra, existe uma vulnerabilidade maior nos jovens para esses sintomas, mas esse dado tem que ser avaliado com mais detalhes. Há coisas que podem ter alguns fatores de confusão. A grande limitação desta primeira fase é saber o que causou o quê. Isso nós vamos tentar aprofundar nas próximas etapas do estudo - afirma o psiquiatra Vitor Calegaro, professor do departamento de Neuropsiquiatria da UFSM, que também é coordenador do ambulatório de Psiquiatria do Centro Integrado de Atendimento às Vítimas de Acidentes (Ciava) do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), e que coordena a pesquisa.
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Outro dado apontado pelo relatório é que 86% dos entrevistados afirmaram realizar o isolamento social. Quando questionados sobre a percepção sobre a saúde mental durante o distanciamento social, 18,4% disseram que "piorou muito" e 46,6% marcaram a opção "piorou um pouco", o que representa 65% dos participantes. Ainda, 27,3% disseram que "nem piorou, nem melhorou", 5,8% afirmaram que "melhorou um pouco" e 1,9% que "melhorou muito". O que mostra, segundo a pesquisa, que a percepção de piora ou melhora foi compatível com a gravidade de sintomas.
- Esses dados foram coletados em um momento em que a situação não estava tão grave. E não podemos dizer, por exemplo, que ela é representativa da população brasileira, pois 74,5% dos entrevistados são gaúchos. A ideia é a gente ver o que mudou da primeira etapa para agora, se os sintomas que as pessoas declararam antes pioraram ou melhoraram. Já era esperado que existisse um aumento dos sintomas no primeiro mês de isolamento, o que é normal e não necessariamente é patológico - relata Calegaro.
De acordo com o especialista, com o estudo longitudinal, que tem previsão de acompanhamento de seis meses, é possível identificar se os sintomas podem evoluir para outros transtornos:
- É normal ter insônia e sintomas de ansiedade, por exemplo, pois tudo mudou de uma hora para outra. Mas o normal é que, com o tempo, isso melhore automaticamente. O organismo tem um mecanismo natural biológico de adaptação. Então, existe um momento temporário que a pessoa fica mal, tem algum grau de sofrimento, e daqui a poucos dias ou um mês ela melhora, fica bem, adapta-se. É o que chamamos de resiliência. A partir desses dados vamos poder identificar aqueles que começaram com sintomas e não melhoraram, podendo evoluir para um transtorno depressivo ou de estresse pós-traumático, por exemplo.
TRATAMENTO
Outro fator importante identificado na primeira análise dos resultados desta etapa é referente ao tratamento psicológico ou psiquiátrico durante o distanciamento social. O relatório apontou que 67,5% dos entrevistados disseram não fazer nenhum tipo de acompanhamento, e 15,4% responderam que faziam tratamento, mas que interromperam devido ao isolamento social.
- Quem não fazia tratamento mostrou que tinha poucos sintomas. Dos que faziam tratamento, quem mostrou maior gravidade de sintomas é quem interrompeu o tratamento agora. Eles tiveram mais sintomas do que quem continuou o tratamento online ou presencial. E isso demonstra que as pessoas estão sofrendo e os serviços de saúde mental estão muito parados. E nunca se precisou tanto deles. Esse dado mostra que não dá para parar esse tratamento, é preciso manter um esforço para dar conta desses pacientes. Os serviços públicos, principalmente, precisam pensar em alternativas, isso é urgente - comenta o psiquiatra.
ATIVIDADES
O estudo ainda mostra que 70% dos entrevistados diz sentir angústia ou tristeza pela falta de atividades de lazer: 38% relataram sentir "muita" falta, enquanto 38% assinalou "extremamente". A falta do contato social, de atividades culturais e físicas ou de esporte aparecem logo na sequência, à frente do convívio em família, estudar ou trabalhar. No entanto, os resultados precisam ser melhor analisados.
- Esse resultado foi um tanto quanto surpreendente. ´uma questão de discussão e para investigarmos ao longo do estudo, pois pode ser que tenha influência do extrato social. A maioria dos entrevistados é de classe média e alta, que são as pessoas que podem vir a sentir mais a falta dessas atividades, ao contrário de alguém que esteja desempregado, por exemplo. São hipóteses levantadas e informações que vamos depurar na próxima etapa - explica Calegaro.
Quem não participou da primeira etapa da pesquisa poderá participar da segunda etapa da pesquisa, respondendo ao questionário online que deve ser lançado nos próximos dias no site do estudo. Todos os resultados preliminares podem ser conferidos aqui.